fonte: O Globo
Os níveis de anticorpos encontrados em pacientes – sintomáticos e assintomáticos – recuperados da Covid-19 diminuíram dois a três meses após a infecção, informa estudo pubicado no periódico científico “Nature Medicine” e comandado por pesquisadores da Universidade Médica de Chongqing, uma filial do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China.
A conclusão da pesquisa aumentou as dúvidas a respeito da duração da imunidade contra o novo coronavírus e do momento seguro do retorno dos recuperados ao trabalho e à escola, por exemplo. Especialistas lembram, no entanto, que o trabalho não exclui a possibiilidade de outras partes do sistema imunológico oferecerem proteção.
A pesquisa, comandada por Ai-Long Hua, da Universidade Médica de Chongqing, foi publicada na Nature Medicine no dia 18 e enfatiza o risco dos chamados “passaportes de imunidade”, a liberação da quarentena a pacientes já infectados pela Covid-19. Para os pesquisadores, os resultados justificam o uso prolongado de intervenções de saúde pública como o distanciamento social e o isolamento de grupos de alto risco.
Autoridades de saúde de alguns países, como a Alemanha, já estão debatendo a ética e a viabilidade de se permitir que pessoas que tiveram um exame de anticorpos positivo circulem com mais liberdade do que as que não tiveram.
Sintomáticos vs. assintomáticos
A pesquisa também mostrou que pacientes assintomáticos infectados pelo Sars CoV-2 podem ter uma resposta imunológica mais fraca do que os que desenvolveram os sintomas — entre eles febre e tosse.
Os níveis de anticorpos de pacientes que não apresentaram os sintomas caíram mais de 80% após 8 semanas da saída do hospital.
A pesquisa estudou 37 pacientes sintomáticos e 37 assintomáticos. Entre os 37 assintomáticos, 22 eram mulheres e 15 homens, com idades entre 8 e 75 anos (média: 41 anos).
Ai-Long Hua descobriu que os pacientes assintomáticos, isolados no hospital, tiveram uma duração média de excreção viral de 19 dias. Já entre os pacientes com os sintomas, o tempo médio foi de 14 dias. Essa duração da excreção não significa, no entanto, que eles possam contagiar mais outras pessoas.
No total, entre os pacientes que tiveram exames positivos para a presença dos anticorpos IgG, um dos principais tipos de anticorpos induzidos após a infecção, mais de 90% mostraram declínios acentuados dentro de dois a três meses.A porcentagem média de declínio foi sempre de mais de 70% em pacientes sintomáticos e assintomáticos.
Jin Dong-Yan, professor de virologia da Universidade de Hong Kong que não participou do grupo de pesquisa, disse, no entanto, que o estudo não nega a possibilidade da existência de um nível de proteção contra o vírus pelos infectados.
Algumas células, ele explica, memorizam como lidar com um vírus quando são infectadas pela primeira vez e podem apresentar uma proteção eficiente se houver uma segunda rodada de infecção, disse. Cientistas ainda investigam, no entanto, se este mecanismo funciona para o novo coronavírus.
— As descobertas deste estudo não significam que o céu está desabando — disse Dong-Yan, observando ainda que o número de pacientes estudados não foi substancial.